quinta-feira, 20 de março de 2014

0 comentários
Desde o final do século XIX, as pesquisas de campo desenvolvidas pelo diretor do Museu Paraense de Belém, Emílio Goeldi (1859-1917), ajudaram a divulgar a cultura Aristé, chamada também Cunani, o nome da região amapaense onde foi encontrado o sítio arqueológico. As características da cerâmica e das estruturas funerárias que a abrigam permitiram dar a conhecer este patrimônio arqueológico da foz do Amazonas, tanto como as culturas Maracá e Marajoara.

São certamente as urnas antropomorfas as mais representativas desta cultura arqueológica hoje em dia. Além da grande variedade de decoração pintada e da presença de apliques representando traços e membros humanos, a presença de perfurações na base de algumas delas ainda desafia os investigadores.

Segundo Goeldi (1905 : 24), essa última característica deve « ter tido o seu fim especial » e adiciona em nota de rodapé que « se se tratasse de um objecto ceramico de uso domestico, julgar-se-ia, que a bandeja e os alguidares perfurados poderiam ter servido á certo fim culinario ».

Entretanto, Goeldi (1905 : 24) tem duas hipotes principais : a primeira é que os furos foram feitos para permitir que os insetos necrófagos acessassem o interior das urnas. No entanto, ele não está totalmente convencido porque, segundo ele, no sítio arqueológico em questão, nenhuma dessas vasilhas está fechada com tampa. A segunda interpretação, em sua opinião a mais provável, é que os furos teriam a função de drenar os sucos de decomposição. Enfim, Goeldi propunha que eventualmente, um líquido qualquer teria sido introduzido intencionalmente na urna para fluir através dessas perfurações.

E se procurarmos uma interpretação fora do prático e do concreto ? E se a função desses furos teve outros significados na esfera do simbólico ?


Estampa II in Goeldi, 1905



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

GOELDI, Emílio, 1905 – Excavações archeologicas em 1895. 1 parte : As cavernas funerarias artificiaes dos Indios hoje extinctos no Rio Cunany (Goanany) e sua ceramica, Memorias do Museu Paraense de Historia Natural e Ethnographia, Belém. 49pp.